sábado, 23 de maio de 2015

Número de fertilizações in vitro mais que dobra no Brasil em quatro anos Menor preço e mudança no comportamento da mulher estão entre motivos. Número de embriões congelados aumentou 763% entre 2008 e 2014.!!!!


Número de fertilizações in vitro mais que dobra no Brasil em quatro anos
Menor preço e mudança no comportamento da mulher estão entre motivos.
Número de embriões congelados aumentou 763% entre 2008 e 2014.
Eduardo Carvalho
Do G1, em São Paulo
Marina e Cecília* mantêm uma união estável há 10 anos. Funcionárias públicas e moradoras de São Paulo, elas decidiram revelar a poucas pessoas o amor que sentem uma pela outra por temerem o preconceito, seja no ambiente de trabalho ou da família de ambas. Mas essa situação, ainda vivida por muitos homossexuais do país, não impediu que as duas realizassem um sonho antigo: o de gerar uma vida.
Marina e Cecília "estão grávidas" de seis meses do Miguel, resultado de uma fertilização in vitro (Foto: Victor Moryiama/G1)Marina e Cecília "estão grávidas" de seis meses do Miguel, resultado de uma fertilização in vitro (Foto: Victor Moryiama/G1)
Marina, de 44 anos, engravidou com a ajuda da fertilização in vitro (FIV), procedimento que implanta um embrião desenvolvido em laboratório no útero da mulher, acessível a casais homoafetivos e mulheres solteiras graças a novas regras implementadas em 2013 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
FERTILIZAÇÕES IN VITRO
Veja número de procedimentos feitos entre 2011 e 2014
13.52721.07424.14727.87120112012201320140k10k20k30k
Fonte: Anvisa
Levantamento feito pelo G1 a partir de dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, mostra que entre 2011 e 2014, o número de FIVs realizadas no Brasil, incluindo mães heterossexuais e homossexuais, aumentou 106% em quatro anos. O total de procedimentos saltou de 13.527, em 2011, para 27.871, em 2014.
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, além da implementação das novas regras do CFM, puxaram o crescimento fatores como a maior distribuição de clínicas e bancos embrionários pelo país, a queda do preço do tratamento para se ter um “bebê de proveta” e o fato de as mulheres optarem por engravidar mais tarde.
Este último item, por exemplo, contribuiu ainda para um aumento na quantidade de embriões congelados no país, ação feita com o intuito de postergar a gravidez. Os dados da Anvisa mostram que, entre 2008 e 2014, o total de embriões congelados subiu de 5.539 para 47.812, alta de 763%. O número de clínicas que repassam informações à agência também cresceu no período: em 2008, elas eram 33; em 2014, eram 106.
Segundo a Anvisa, os estabelecimentos atuais não comportam o volume de embriões existente hoje. "[As clínicas] têm relatado uma dificuldade de armazenamento devido à grande quantidade. A Anvisa não tem o que fazer para aumentar essa capacidade", explicou Daniela Marreco, gerente de produtos biológicos do órgão governamental.
Quem procura mais
“Mulheres entre 35 e 40 anos, estabilizadas na carreira, a maioria casada, são o maior público das clínicas de fertilização. Elas nos procuram quando já não conseguem gerar um filho pelo método natural”, diz o médico Renato de Oliveira, da clínica de medicina reprodutiva Criogênesis. "O casal heterossexual ainda é maioria. Só que, cada vez mais, temos percebido um aumento na procura de casais homoafetivos", complementa.
Foi o caso de Marina e Cecília, que procuraram a clínica VidaBemVinda, na capital paulista.
Com sêmen doado, em setembro de 2012, Marina começou a tomar medicamentos para indução da ovulação dois meses antes da implantação, que aconteceu em agosto de 2013. Mas não deu certo.
"O resultado do teste de gravidez deu negativo. Daí, foram feitos mais exames, fiz um procedimento cirúrgico e a segunda implantação foi em novembro de 2014. Deu positivo”, disse Marina, emocionada ao lembrar que carrega no ventre o pequeno Miguel.
Marina e Cecília procuraram a clínica de fertilização quando tinham cinco anos de relacionamento. Nova resolução do CFM, implementada em 2013, permitiu que o casal fizesse a fertilização in vitro (Foto: Victor Moryiama/G1)
De acordo com o ginecologista Renato Tomioka, um dos diretores da clínica, desde 2013, quando a nova resolução do CFM entrou em vigor, foram feitos no local 35 tratamentos para casais homoafetivos e de gestação independente.
Mas Tomioka ressalta que a queda no preço e a facilidade de pagamento também têm sido um dos atrativos, independentemente do gênero de quem opta pelo procedimento. No começo dos anos 2000, um tratamento de fertilização in vitro custava entre R$ 20 mil e R$ 30 mil. “Atualmente, custa entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, valor que pode ser parcelado em até 12 vezes”, explica.
Fertilização (Foto: G1)
Esse barateamento foi o que mais chamou a atenção de Adriana Freire, de 33 anos, há dois meses mãe da pequena Geovana. Casada há 13 anos com Francenildo Freire, de 47 anos, ela afirma que o marido havia feito uma vasectomia, o que impedia uma gravidez natural. Por isso, o casal optou pela fertilização em vez de reverter o método contraceptivo.
Segundo Adriana, mesmo com a queda do valor, o preço ainda continuava alto, o que a assustou. Então, a família decidiu se organizar e juntar dinheiro para a fertilização. Adriana diz que a gravidez ocorreu logo na primeira tentativa. “Foi um tratamento longo, com medicações que não são agradáveis, injeções na barriga. Mas vale a pena a perseverança”, disse ela por telefone – ao fundo, era possível ouvir o chorinho da recém-nascida.
O barulho será o mesmo ouvido em pouco mais de três meses por Marina e Cecília, que esperam ansiosamente pelo nascimento do bebê, já preparadas para vencer quaisquer tipos de barreira. "Vamos enfrentar muita coisa ainda, mas me sinto mais preparada, principalmente depois que engravidei. As pessoas estão começando a entender e a respeitar o espaço do outro. Ele será muito bem-vindo", afirmou a mãe de primeira viagem.
Adriana Freire, 33 anos, juntou dinheiro para realizar uma fertilização in vitro. Sua gravidez ocorreu na primeira tentativa (Foto: Arquivo pessoal)Adriana Freire, de 33 anos, juntou dinheiro para realizar uma fertilização in vitro. Sua gravidez ocorreu na primeira tentativa (Foto: Arquivo pessoal)

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