Indonésias têm de provar que são virgens para entrar no Exército
ONG pede o fim do exame que classifica como 'cruel e degradante'; militares dizem que virgindade é questão de segurança nacional.
Na Indonésia, uma jovem que queira ingressar nas Forças Armadas precisa submeter-se ao que vem sendo chamado de algo "cruel, degradante e humilhante": um teste de virgindade.
Até pouco tempo atrás, esse exame também era obrigatório para noivas de militares.
Agora, a prática vem sendo alvo de críticas de diversos setores, e a ONG de direitos humanos Human Rights Watch (HRW), que entrevistou muitas dessas mulheres, vem fazendo uma campanha para que o governo do país coloque um fim a esses testes.
Os testes também foram alvo de críticas da Organização Mundial da Saúde (OMS), que afirmou que os exames deveriam ser banidos, “por não terem nenhum validade científica”.
As provas de virgindade são obrigatórias para as recrutas militares e para as jovens que queiram entrar na Polícia Nacional, segundo a jornalista da BBC Josephine McDermott.
Segundo a HRW, governos locais e alguns serviços públicos civis também vêm defendendo o uso do teste na hora da contratação.
Há quem vá além: em fevereiro, as autoridades na Província de Java Oriental divulgaram um plano que obriga garotas a certificar sua virgindade antes de se formarem na escola secundária.
"As Forças Armadas da Indonésia devem, imediatamente, colocar um fim ao uso do chamado teste de virgindade, que viola as leis internacionais de direitos humanos, que proíbem o tratamento cruel, desumano e degradante. Esse exame é uma forma de violência de gênero”, afirmou a ONG em um comunicado.
Como é o teste?
No exame, conhecido como “prova dos dois dedos”, um médico usa dois dedos para abrir a vagina e tentar deduzir o estado do hímen e “frouxidão” vaginal. No entanto, o hímen pode variar de tamanho por diversas razões não relacionadas ao sexo.
No exame, conhecido como “prova dos dois dedos”, um médico usa dois dedos para abrir a vagina e tentar deduzir o estado do hímen e “frouxidão” vaginal. No entanto, o hímen pode variar de tamanho por diversas razões não relacionadas ao sexo.
Andreas Harsono, investigadora da HRW que entrevistou 11 indonésias, entre militares e esposas de oficiais, disse que a maioria se sentia envergonhada por ter sido submetida ao teste e que muitas ficaram traumatizadas.
Segundo a ativista, uma das mulheres relatou que ao sair do exame, contou às demais mulheres que aguardavam na sala de espera e todas elas deixaram o local.
Uma médica militar contou à ONG que quando realizava os testes em Jacarta, era difícil persuadir as mulheres para que se submetessem ao teste. “Não era apenas um ato humilhante. Era uma tortura. Tanto que decidi não fazer mais isso.”
Segurança nacional
Segundo o diretor de informação das Forças Armadas do país, o general Fuad Basya, o teste é uma questão de segurança nacional.
Segundo o diretor de informação das Forças Armadas do país, o general Fuad Basya, o teste é uma questão de segurança nacional.
“Se não restringirmos dessa maneira, alguém com um mau hábito pode se tornar um militar. Os soldados são defensores de uma nação. Defendem a soberania do país.”
Em entrevistas à mídia local, ele disse que se uma candidata perder sua virgindade fora do casamento, seu estado mental não a deixaria apta para se tornar uma militar.
“Pode ser que tenha sido por um acidente, uma doença ou um hábito”, disse Basya, se referindo ao ato sexual. “Se for um hábito, o Exército indonésio não pode aceitar potenciais recrutas como essa.”
Uma esposa de um militar entrevistada pelo HRW disse que a razão que lhe foi dada era de caráter econômico, porque “o Exército quer casais saudáveis”.
“E os militares viajam muito. Então eles têm de confiar em suas esposas”, completou.
O teste de virgindade não é exclusividade da Indonésia. Veja outros países onde ele está ou esteve em uso.
África do Sul
O assunto é latente no país já que um partido político quer que se façam esses exames em alunas do segundo grau, para combater a gravidez na adolescência. No passado, o argumento usado era que os testes seriam úteis para conter a epidemia de HIV.
O assunto é latente no país já que um partido político quer que se façam esses exames em alunas do segundo grau, para combater a gravidez na adolescência. No passado, o argumento usado era que os testes seriam úteis para conter a epidemia de HIV.
Índia
A HRW já fez campanha contra os hospitais indianos que fazem testes de virgindade em vítimas de estupro. Em 2009, centenas de mulheres protestaram contra o uso do teste em monjas e também em jovens que se casaram em uma cerimônia em massa patrocinada pelo governo.
A HRW já fez campanha contra os hospitais indianos que fazem testes de virgindade em vítimas de estupro. Em 2009, centenas de mulheres protestaram contra o uso do teste em monjas e também em jovens que se casaram em uma cerimônia em massa patrocinada pelo governo.
Egito
Em 2001, um tribunal impôs o teste a mulheres detidas em prisões militares, após uma manifestante presa nos protestos da Praça Tahrir ter acusado o Exército de submetê-la ao exame.
Em 2001, um tribunal impôs o teste a mulheres detidas em prisões militares, após uma manifestante presa nos protestos da Praça Tahrir ter acusado o Exército de submetê-la ao exame.
Um general egípcio alegou que os testes eram feitos para que as mulheres não dissessem mais tarde que haviam sido estupradas na prisão.
Reino Unido
Até 1979, autoridades do Reino Unido realizaram esses testes em algumas imigrantes da Índia, Paquistão e Bangladesh.
Até 1979, autoridades do Reino Unido realizaram esses testes em algumas imigrantes da Índia, Paquistão e Bangladesh.
A justificativa usada era detectar se elas estavam mentindo sobre estarem viajando para casar com um homem que já vivia no país.
Se supunha que era mais provável que virgens viessem ao país para casamentos arranjados.
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