Aramaico é mais que uma língua, é uma etnia em Israel
por Jarbas Aragão
Nas colinas da Galileia, onde Jesus andou e pregou dois mil anos atrás, existem ainda centenas de pessoas que falam aramaico, chamada por eles de “a língua de Cristo”. Em Israel, o aramaico mais que uma língua é uma identidade étnica. Falado por muitos árabes cristãos, eles lutam pelo reconhecimento de sua identidade cultural.
O governo de Israel recentemente reconheceu seu direito de mudarem seus registros de “árabe” para “aramaico”. Para os beneficiados é um sinal de tolerância étnica, num país que enfrenta tantos problemas desse tipo como Israel. De acordo com o departamento de estatísticas do governo israelense, cerca de 83% dos árabes israelenses são muçulmanos e 8% cristãos. O restante são drusos.
Shadi Khalloul, um ex-capitão do exército israelense, dirige a Sociedade Aramaica de Israel, que lutou anos por essa mudança. Seu filho de dois anos de idade, Yacov, foi o primeiro em Israel a ser registrado como o aramaico, após a lei promulgada em setembro. “É uma questão espiritual, me sinto igual entre iguais, que não sou menos do que eles, judeus, árabes, circassianos, drusos… meus antepassados ficaria orgulhoso”, comemora.
Todos que pedem o reconhecimento hoje são residentes da aldeia de Jish e pertencem à Igreja Cristã Maronita. Sua língua litúrgica há milhares de anos é o aramaico. A pequena Jish tem três mil habitantes, mas muitos árabes estão contrariados. “Eles têm vergonha de sua etnia”, disse Marvat Marun, 39. “Eu sou árabe, um árabe cristão maronita, e me orgulhoso disso. Minhas raízes são palestinas”.
O congressista Basel Ghattas, do partido árabe Balad, acredita que o reconhecimento dessa minoria só irá geras divisões e animosidade entre a população. A Comissão de Justiça e Paz da Igreja Católica na Terra Santa também está insatisfeita. “Israel não precisa de cristãos que deformem sua identidade, que se posicionam como inimigos do seu próprio povo”.
Por sua vez, Yousef Yakoub, líder da Igreja maronita em Haifa, pediu que houvesse uma abordagem mais conciliadora. “Não é a vocação da igreja intervir na forma como as pessoas se identificam, mas construir uma cultura de comunhão e de abertura mútua”. O Ministério do Interior ainda não definiu como será feita essa identificação, por isso o pequeno Yakov Khalloul ainda é o único aramaico israelense.
Chen Bram, antropólogo da Universidade Hebraica, acredita que essa mudança deve ser vista em um contexto político mais amplo. Pode estar ligada a uma tentativa recente de Israel em recrutar árabes cristãos para seu exército. A maioria dos árabes cristãos não gostam de se envolver nas questões entre israelenses e palestinos, por isso nunca se voluntariam para o serviço militar.
Língua Morta?
O aspecto que mais se destaca quando se fala em povo aramaico, é sua língua, que tem uma origem comum com o hebraico e o árabe. No passado distante, foi a linguagem predominante na região, mas foi quase abolida por causa das conquistas muçulmanas a partir do século 7 que impuseram o árabe.
De fato, o aramaico está em perigo de extinção. A guerra na Síria entre as forças leais ao governo e os terroristas do Estado Islâmico expos ao mundo essa possibilidade. O fim da língua falada por Jesus Cristo é uma preocupação da Unesco, que criou um programa para preservá-la, já que existem apenas algumas centenas de falantes do idioma na Síria e muitos deles foram mortos ou estão refugiados.
Eleanor Coghill, linguista da Universidade de Konstanz e pesquisador do projeto de banco de dados do Neo-aramaico, acredita que é difícil reavivar plenamente uma língua considerada morta. “Eu senti que a geração mais jovem estava se perdendo, nossa história e patrimônio foram desaparecendo. Nós vamos à igreja e recitamos aramaico como papagaios, sem saber o que estamos dizendo”, disse Khalloul. Por isso, ele e seu grupo ensina até hoje aramaico para os filhos em Jish. Com um número bastante reduzido de falantes pode se dizer que é uma língua ameaçada de extinção, mas não morta. Com informações de Jerusalem Post
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