sexta-feira, 10 de julho de 2015

Sou 'um homem perdoado', diz Papa Francisco a presos bolivianos Pontífice se reuniu com grupo de 2,8 mil presos e seus familiares. Visita ocorreu na prisão de Palmasola, em Santa Cruz.

France Presse


Sou 'um homem perdoado', diz Papa Francisco a presos bolivianos
Pontífice se reuniu com grupo de 2,8 mil presos e seus familiares.
Visita ocorreu na prisão de Palmasola, em Santa Cruz.
Da France Presse
O Papa Francisco chega à prisão de Palmasola, em Santa Cruz, na Bolívia, para se encontrar com detentos nesta sexta-feira (10) (Foto: Rodrigo Abd/AP)O Papa Francisco chega à prisão de Palmasola, em Santa Cruz, na Bolívia, para se encontrar com detentos nesta sexta-feira (10) (Foto: Rodrigo Abd/AP)
O Papa Francisco defendeu a reinserção dos presos na sociedade ao visitar nesta sexta-feira (10) a prisão boliviana de Palmasola e se apresentar aos réus como "um homem perdoado" e "salvo de muitos pecados", em uma de suas últimas atividades antes de partir ao Paraguai.
Na prisão mais perigosa e lotada do país, uma espécie de cidade localizada em Santa Cruz, Francisco se despojou de toda a pompa de pontífice e enfatizou que "reclusão não é o mesmo que exclusão, que fique claro, porque a reclusão forma arte de um processo de reinserção na sociedade".
Francisco caminhou lentamente em um amplo pátio do recinto, onde era aguardado por 2.800 presos e seus familiares. Abraçou muitos deles e beijou crianças. Atrás dele, integrantes do Vaticano distribuíam rosários enquanto uma delicada melodia cristã acompanhava sua passagem.
"Quem está diante de vocês é um homem perdoado. Um homem que foi e é salvo de seus muitos pecados. E assim é que me apresento", declarou.
"Rezem por mim. Rezem, também cometi meus erros. Eu também preciso de penitência", acrescentou.
Antes de se dirigir à prisão, o Vaticano informou que o Papa visitou a Virgem padroeira da Bolívia, a quem doou as condecorações que recebeu das mãos do presidente Evo Morales nesta quinta-feira (9).
Presidente boliviano, Evo Morales, presenteou o Papa Francisco com um crucifixo de madeira com formato da cruz e machado, símbolo comunista da união de operários com camponeses, em La Paz, nesta quinta (9) (Foto: Osservatore Romano/Reuters)O presidente boliviano, Evo Morales, presenteou o
Papa Francisco com um crucifixo de madeira com
formato da cruz e machado, símbolo comunista da
união de operários com camponeses, em La Paz
(Foto: Osservatore Romano/Reuters)
Sabe-se que o Papa não aceita nenhum tipo de distinção. No entanto, nada foi especificado sobre o polêmico Cristo crucificado sobre a foice e o martelo, que também recebeu de presente do presidente boliviano.
Francisco encerra nesta sexta-feira seu terceiro e último dia de visita à Bolívia, e depois parte ao Paraguai, última etapa de um giro que começou no domingo passado no Equador.
Não nos abandonem
Francisco, de 78 anos, ouviu testemunhos de prisioneiros, entre eles o da reclusa Analía Parada, que pediu ao pontífice que divulgasse o "terrorismo jurídico que atinge as pessoas de escassos recursos". Ao fim, Parada se emocionou e se refugiou em um abraço do Papa.
"O fato de termos cometido um crime não significa que devam nos deixar assim, no abandono", declarou outro detido entre aplausos dos presentes.
"Não tenho muito mais para dar ou oferecer a vocês, mas o que tenho e o que amo quero dar, quero compartilhar: Jesus Cristo, a misericórdia do Pai", declarou Francisco, que em certo momento perdeu o solidéu devido ao vento. "Enquanto a minha cabeça não voar, não há problema", brincou.
Palmasola
O pontífice argentino pediu de maneira específica para visitar Palmasola, uma prisão que abriga 4.800 réus, que se enfrentaram por disputas de poder em 2013, com um saldo de 35 mortos.
Papa Francisco abraça prisioneira ao visitar a prisão Palmasola em Santa Cruz nesta sexta-feira (10) (Foto: AP Photo/Gregorio Borgia)Papa Francisco abraça prisioneira ao visitar a prisão Palmasola em Santa Cruz nesta sexta-feira (10) (Foto: AP Photo/Gregorio Borgia)
Em Palmasola, nos arredores de Santa Cruz, cidade onde Francisco cumpriu a maior parte de sua atividade, vivem 120 crianças com seus pais presos, expostos a todo tipo de riscos.
O arcebispo de Sucre e responsável pela pastoral penitenciária Jesús Juárez declarou que a presença de Francisco torna reais as palavras de Jesus: "Eu estava na prisão e foi me ver".
Milhares de familiares de presos aguardaram a passagem do Papa nos arredores da cadeia. "Tenho um sobrinho que está la dentro por coisas da vida de garoto, (...) as pessoas dentro e fora estão emocionadas. Sinto que o santo padre está vindo e traz paz para todos", declarou Ana Vargas à agência France Presse.
A Bolívia tem a maior quantidade de presos sem sentença em toda a América Latina, com 84%, seguida de Paraguai, com 71% nesta situação, segundo a Defensoria do Povo. Além disso tem uma alarmante taxa de superlotação - com 15.000 presos em cadeias cuja capacidade real é 5.000 - razão pela qual o governo impulsiona processos de indulto.
Na última atividade que o Papa cumprirá nesta nação figura uma reunião reservada com os bispos bolivianos.
Perdão em nome da Igreja
Francisco lançou na quinta-feira um histórico pedido de perdão em nome da Igreja, pelos crimes cometidos contra indígenas durante a conquista da América, em um dia marcado por seu apoio a reivindicações sociais, que o levaram a ser chamado de "Papa revolucionário".
"Peço humildemente perdão, não apenas pelas ofensas da própria Igreja, mas pelos crimes contra os povos originários durante a chamada conquista da América", declarou o primeiro Papa latino-americano ante uma cúpula de movimentos populares que o aplaudiu.
Durante sua estadia na Bolívia, o Papa ressaltou o trabalho social da Igreja católica e a defesa do meio ambiente. Também fez uma abordagem interessante de assuntos pontuais como o capitalismo ou a inclusão dos pobres.
"Vamos dizer sem medo: queremos uma mudança", clamou o Papa em alusão ao livre mercado. Francisco sustentou que "este sistema já não se aguenta, os camponeses não aguentam, os trabalhadores não aguentam, as comunidades não aguentam, os povos não aguentam... e nem a Terra aguenta".

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