Avó afegã arma netos e vira heroína na luta contra o Talebã
Ferozah comanda polícia em Halmand, província que tem sido palco de avanços do grupo islâmico fundamentalista desde saída das tropas internacionais.
Ferozah tem entre 60 e 70 anos - ela desconhece sua idade correta, já que nunca foi a escola. Agora, é comandante de uma unidade da polícia que luta contra o Talebã na província de Helmand, no sul do Afeganistão.
Ela assumiu o posto em Sistani, em Marjah, após seu filho ser morto. Recebeu a mais alta condecoração do Afeganistão dada a uma mulher, a medalha de Malalai, heroína de uma batalha contra os britânicos no século 19.
Ser uma comandante militar numa cultura rural, onde mulheres raramente trabalham fora de casa, é bastante raro. Mas as surpresas não param por ai.
Dois de seus netos, Faizal Mohammed, de 13 anos, e Sultan Mohammed, de 14, lutam ao seu lado. Eles são rápidos em montar e desmontar um rifle Kalashnikov - mostram destreza semelhante a de um veterano experiente.
Ela diz: "O Talebã vive me provocando, dizendo 'o que você ganhou? você armou até os seus netos'. Mas o governo está ganhando e eles estão perdendo."
Ferozah os chama de "guerreiros de Sistani" - e os jovens já enfrentaram muitas batalhas contra o Talebã. Mas, independente do nome que têm, estas são crianças transformadas em soldados, o que viola o direito internacional.
Sistani está na linha da frente entre a densamente povoada zona central de Helmand, onde vive a maioria das pessoas no país, e as áreas menos povoadas do norte e sul.
A região central, cortada pelo rio Helmand, é mais estável do que antes da chegada das tropas internacionais. As estradas estão bem melhores e há 75 postos de saúde, fornecendo serviços básicos num lugar onde antes não havia nada.
Mais de 190 mil crianças vão à escola na província, cerca de um terço delas meninas, e algumas unidades permanecem abertas em áreas sob controle do Talebã - embora, como nos postos de saúde, seja difícil recrutar funcionários.
Uma das razões do sucesso na prestação de serviços pelo governo em partes de áreas controladas pelo Talebã são os conselhos distritais, criados pelas forças britânicas, e que ainda estão operando.
A criação destes conselhos deu a anciãos dos vilarejos participação direta em como e onde o dinheiro de ajuda é gasto.
Mas nem tudo são notícias boas. O Talebã tem realizado avanços importantes em Helmand desde a saída das tropas britânicas e internacionais, no final do ano passado.
Sem temer mais ataques aéreos, o grupo organiza ataques mais ousados e amplia sua influência em cidades isoladas no norte da província, incluindo Sangin e Musa Qala.
Eles também têm impedido a reparação de uma central hidrelétrica em Kajaki - se a usina estivesse operando em capacidade total, faria uma diferença significativa nos padrões de vida em todo o sul.
Segundo o chefe local do Ministério de Reabilitação e Desenvolvimento Rural, Mohammed Omar Khane, desde que forças britânicas deixaram a área apenas metade do trabalho foi feita.
E alerta: se a ajuda parar de chegar, tudo o que foi feito será destruído.
Bolha de guerra?
Há menos ajuda chegando ao Afeganistão, e essa diferença é profundamente sentida, especialmente por ocorrer em paralelo à retirada das forças estrangeiras do país. O crescimento econômico dos últimos anos, ao que parece, pode ter sido uma "bolha" dos tempos de guerra.
Há menos ajuda chegando ao Afeganistão, e essa diferença é profundamente sentida, especialmente por ocorrer em paralelo à retirada das forças estrangeiras do país. O crescimento econômico dos últimos anos, ao que parece, pode ter sido uma "bolha" dos tempos de guerra.
As prateleiras das lojas em Lashkar Gah estão cheias de produtos que comerciantes tinham planejado vender para as forças britânicas.
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